3 de jan. de 2011

TUDO POR UM CUSPE

Às oito horas da noite os portões foram abertos. A gritaria era estridente. Cerca de quinhentas adolescentes se espremiam e corriam para pegar o melhor lugar em frente ao palco. Os gritos não paravam. Mesmo não tendo ninguém no palco! Mas, para aquelas garotas, o que importava era que elas estavam lá. E estavam dispostas a tudo para chegar o mais próximo possível de seus ídolos.
Após alguns instantes começaram a gritar o nome da banda. Exigindo que o show começasse. Nos olhares era possível verificar a total devoção que algumas daquelas garotas tinham pela banda. Fariam o que fosse possível. Era impressionante! Algumas já choravam de emoção e eram amparadas pelas amigas, que acabavam chorando também. Via-se ali um ambiente de muita união - desde que uma não entrasse na frente da outra.
O local do show era amplo. E tinha muitos espaços que estavam vazios. Mas ao reparar melhor, estavam vazios por que todas queriam ficar perto do palco. Estava tudo uma loucura. Uma diversão.
A fumaça começou a tomar conta do palco. A gritaria aumentou. Vozes começar a sair dos falantes de som e os acordes da primeira música soou. Uma menina de 13 anos desmaiou. Outra parecia possuída. Outra parecia morrer de dor. E assim foi até a metade da apresentação. Muita emoção à flor da pele.
Os “artistas” conversavam com as meninas. Elas só faziam gritar. Eles voltavam a tocar outra música. E novamente elas voltavam a gritar.
E continuou assim, esse frenesi. Até um momento, próximo ao final da apresentação, quando um dos componentes, o guitarrista, de cabelo rosa e umas roupas coloridas parecendo ser inspiradas no programa dos Teletubies, resolve tomar água. Umas meninas começam a gritar: “Eu quero! Eu quero”. Ele responde: “Vocês querem mesmo?”. Gritos em uníssono: ”Sim!”. E ele lhes dá a tão solicitada água.
O rapaz enche a boca com aquele líquido incolor e inodor. Chega próximo da beirada do palco e, num ato de puro amor pelo seu público, cospe a água em suas fãs. Algumas das mães que estavam presentes para acompanhar suas filhas ficaram indignadas. Mas o que entendem as mães a respeito de cuspes? As adolescentes ficaram mais histéricas, começando um empurra-empurra para chegar mais perto para ter a vez delas. E tiveram. E gritaram. E voltaram para suas casas felizes, postando no Twitter: “Eles cuspiram em mim!”.

3 comentários:

  1. Não sei se você chegou a ver, cara, mas eu postei algo semelhante no meu blog, em novembro.

    http://gatosmucky.blogspot.com/2010/11/nao-valem-uma-cuspida.html

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  2. Com uma comédia muito sutil e critica você acabou de demonstrar e até descrever o ponto de absurdo que chegam essas fãs por bandas incrivelmente ruíns! Muito bom mano.

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